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Morte à América

Fonte: wikishia
Tipografia e ilustração “Morte à América”, obra de Farhūd Moqaddam, 1398 SH.

Morte à América (em persa: مرگ بر آمریکا) ou Morte ao imperialismo constitui um lema de protesto empregado no Irã e em diversas regiões do globo em reação às políticas do governo dos Estados Unidos da América. Parte dos analistas considera este lema um símbolo dos ideais e objetivos anticolonialistas da Revolução Islâmica do Irã.

Outros fundamentam este lema em passagens corânicas que expressam o desejo de aniquilação para os infiéis e politeístas; e há quem o categorize como uma manifestação de tabarri, um dos preceitos da doutrina religiosa. Segundo a perspectiva do Aiatolá Khamenei, o lema em questão possui uma lógica subjacente profunda e racional, passível de ser equiparada à isti'aza (busca de refúgio em Deus) e a um estado de vigilância contínua frente ao mal.

Em contraposição, certas facções políticas iranianas advogam a supressão deste lema, alegando que o Imam Khomeini, durante sua existência, assentiu à sua descontinuação nos veículos de comunicação estatais. Não obstante, os defensores do lema refutam tais alegações como infundadas e ardilosas, considerando a decisão sobre sua manutenção ou abolição como uma prerrogativa da Guia Suprema.

Posicionamento Doutrinário

O lema Morte à América é apresentado como o emblema dos ideais e aspirações anticolonialistas da Revolução Islâmica do Irã (1). Para alguns, ele representa o mais fundamental dos lemas da Revolução Islâmica do Irã (2), sublinhando sua relevância para além de um período temporal específico (3). Muhammad Taqi Misbah Yazdi, clérigo e filósofo xiita, argumenta que a população iraniana considera este lema indispensável, equiparando-o ao takbir (expressão "Allahu Akbar") proferido após as orações congregacionais (4).

De acordo com o Aiatolá Khamenei, o segundo líder da Revolução Islâmica do Irã, o lema "Morte à América" configura uma divisa lógica, respaldada por um substancial arcabouço intelectual e racional, significando "morte às políticas hegemônicas da América" (5) e, adicionalmente, "morte aos líderes da América em cada período" (6). Ele estabelece um paralelo entre este lema e a célebre expressão da isti'aza e a constante prontidão perante o mal, sustentando que ele capacita a população a resistir às ambições descomedidas das potências globais (7).

Aiatolá Khamenei:

"Morte à América significa morte a Trump, John Bolton e Pompeo. Significa morte aos líderes da América, que, no presente período, são essas figuras… Significa morte a vocês, ínfima parcela que administra este país; não nutrimos qualquer animosidade contra a nação americana" (8).

Análise Interpretativa

Os proponentes do lema "Morte à América" o interpretam como uma manifestação de oposição dirigida aos governantes, ao governo e às políticas dos Estados Unidos, e não à sua população (9). Segundo o Aiatolá Khamenei, o segundo líder da República Islâmica do Irã, "Morte à América" denota "morte aos líderes da América e ao reduzido contingente de indivíduos que exercem a governança deste país". Ele cita Donald Trump, John Bolton e Pompeo como exemplos de tais personalidades em sua respectiva época (10).

Fundamentação Teológica do Lema "Morte à América"

Foram investigadas fundamentações corânicas para o lema "Morte à América", estabelecendo-se uma correlação com versículos como o oitavo da Surata Muhammad, o quarto da Sura al-Buruj, o 19º da Surata Al-Muddas’sir e o décimo da Sura al-zariyat, nos quais, primordialmente, a aniquilação é desejada para determinados infiéis e politeístas mediante o uso do termo "qutila قُتِلَ" (que significa "morra") (11). Outros sustentam que o lema "Morte à América" pode ser subsumido como uma manifestação de um dos pilares da doutrina, o tabarri (12).

Disseminação Global

Para além do Irã, o lema "Morte à América" encontra eco em alguns países da Ásia, Europa, África e na região da América Latina (13); a ponto de Sayyid Ali Khamenei ter analisado este fenômeno como uma grave crise para os Estados Unidos (14) e, concomitantemente, um indicativo de uma transformação global inexorável (15). Ilustrativamente, Sayyid Hussein Al-Houssi, fundador e primeiro líder do movimento Ansar Allah do Iêmen, em seu discurso intitulado "Um Grito na Face dos Arrogantes", proclamou os lemas "Allah Akbar, Morte à América, Morte a Israel, Maldição aos Judeus e Vitória ao Islã" como a divisa oficial dos xiitas daquela área geográfica (16).

Oposição ao Lema "Morte à América"

No Irã, determinados segmentos pleiteiam a erradicação do lema "Morte à América" do léxico político nacional. Muhammad Taqi Rahbar, clérigo e ativista político, por exemplo, asseverou que este lema poderia ser abolido com a instauração de relações amigáveis com os Estados Unidos (17). Sadiq Zibakalam, professor de Ciências Políticas da Universidade de Teerã, considerou a persistência neste lema onerosa para o Irã (18). Há também quem associe o insucesso no âmbito internacional, como a retirada dos Estados Unidos do JCPOA (acordo nuclear), à proclamação deste lema pela população (19). Akbar Hashemi Rafsanjani, clérigo e político, registrou em suas memórias que o Imam Khomeini, o primeiro líder da Revolução Islâmica do Irã, aquiesceu à eliminação do lema "Morte à América" dos veículos de comunicação estatais iranianos (20).

Em contrapartida, outras personalidades, como Sayyid Ahmad Khatami, Imam da Oração de sexta-feira de Teerã, consideraram a remoção deste lema uma prerrogativa do Vali-e Faqih (Guia Supremo) (21). Sayyid Ali Khamenei, em resposta à alegação de que este lema fomenta a inimizade dos Estados Unidos com o Irã, argumentou que as potências arrogantes globais são hostis à emergência da justiça e ao progresso científico e prático das nações que se desenvolvem fora de sua esfera de influência, sendo o lema meramente um pretexto (22); notadamente, a inimizade dos Estados Unidos teve início em 19 de agosto de 1953 (28 de Mordad de 1332 no calendário persa), em um período no qual o lema "Morte à América" não era proferido no Irã (23). Ele assevera que, enquanto os Estados Unidos persistirem em sua "maldade", "interferência", "perversidade" e "vilania", o lema "Morte à América" não será silenciado pela nação iraniana (24).

Histórico

Em relação à proveniência do lema "Morte à América", diversos relatos são disponíveis: alguns defendem que este lema foi entoado pela primeira vez por estudantes e opositores do Xá do Irã por ocasião de sua viagem aos Estados Unidos, em 14 de novembro de 1977 (23 de Aban de 1356 no calendário persa) (25). Conforme a documentação apreendida durante a tomada da embaixada dos EUA em Teerã, este lema foi utilizado pela população em protestos e inscrições murais no outono de 1978 (outono de 1357 no calendário persa) (26). Outros atribuem sua utilização aos estudantes em 4 de novembro de 1978 (13 de Aban de 1357 no calendário persa) (27).

Na Esfera Midiática e Artística

Nos anos subsequentes à vitória da Revolução Islâmica do Irã, a organização de exposições, conferências, competições e a produção de obras de arte centradas no lema "Morte à América" têm sido uma constante em eventos de caráter nacional e internacional. A título de exemplo, o Festival "Morte à América" ocorre periodicamente, contando com a participação de artistas de diversas nações, em múltiplas categorias como fotografia, design gráfico, caricatura, documentário, videoclipe, hino e canção (28).

Adicionalmente, foram promovidos certames como o "Concurso Nacional de Tipografia Morte à América" (29), exposições de coleções de pôsteres "Morte à América" em recintos universitários (30), e o Festival de Arte "Morte à América", que contou com a participação de renomados vocalistas engajados na causa anti-opressão global (31).

O Festival de Cinema Ammar, em sua sexta cerimônia de encerramento, revelou seu prêmio especial "Mosaico Morte à América". Este galardão, outorgado anualmente à obra que manifesta o mais elevado grau de oposição aos Estados Unidos, foi concedido, em sua edição inaugural, a Mehdi Naqavian, diretor do documentário "Irmãos", que versava sobre as repercussões da décima eleição presidencial iraniana (32).

Referências

Bibliografia