Saltar para o conteúdo

Versículo da Khatamiyyat

Fonte: wikishia

O versículo da Khatamiyyat (أيه خاتميت) (Selamento da Profecia) é o versículo 40ª da Sura al-Ahzab e é o único versículo que menciona claramente que o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) é o último dos profetas. O fim da profecia com Muhammad ibn Abdullah (s.a.a.s.) é considerado um dos princípios essenciais do Islã e um consenso entre os muçulmanos.

No início do versículo, Deus nega que o Profeta (s.a.a.s.) tenha um filho homem que lhe dê descendência, e em seguida, menciona sua posição como o último profeta. Alguns exegetas acreditam que há uma conexão entre essas duas partes do versículo: primeiro, Deus corta qualquer vínculo de descendência biológica do Profeta Muhammad (s.a.a.s.), e depois destaca sua conexão espiritual com todos os crentes através de sua missão profética e seu papel de liderança. Assim, os muçulmanos devem obedecer ao Profeta (s.a.a.s.) devido à sua posição como mensageiro e guia.

Alguns argumentam que há uma diferença entre os termos "Nabi" (Profeta) e "Rasul" (Mensageiro), e que este versículo menciona apenas o fim da profecia (Khatm al-Nubuwwah), mas não o fim da missão de mensageiro. Isso levaria à possibilidade de que, após profeta Muhammad (s.a.a.s.), ainda pudesse haver outros mensageiros.

Porém, os exegetas respondem a essa dúvida dizendo que todo mensageiro (Rasul) também é um profeta (Nabi). Portanto, se a profecia foi encerrada, então a missão de mensageiro também se encerrou. Isso confirma que não haverá mais nenhum profeta ou mensageiro depois de profeta Muhammad (s.a.a.s.).

Posição e importância

O versículo 40ª da Sura Al-Ahzab é conhecido como o Versículo do Selo da Profecia ou o Versículo do Selo.[2]

Esse versículo é considerado a prova mais clara do encerramento da profecia com o Profeta Muhammad (s.a.a.s.),[3] e menciona um dos seus atributos exclusivos, que é o fato de que a profecia e a missão profética se encerram com ele.[4]

A crença no fim da profecia com Muhammad (s.a.a.s.) é um ponto de consenso entre os muçulmanos[5] e é considerada uma doutrina essencial do Islã.[6]

Esse versículo é o único no Alcorão que menciona tanto o nome "Muhammad" quanto o título "Selo dos Profetas" (Khatam al-Nabiyyin).[7]

Texto e tradução do Selamento da Profecia

﴿مَا كَانَ مُحَمَّدٌ أَبَا أَحَدٍ مِنْ رِجَالِكُمْ وَلَكِنْ رَسُولَ اللَّهِ وَخَاتَمَ النَّبِيِّينَ وَكَانَ اللَّهُ بِكُلِّ شَيْءٍ عَلِيمًا ٤٠﴾ [احزاب:40]

"Muhammad não é pai de nenhum dos seus homens, mas é o Mensageiro de Allah e o Selo dos Profetas. E Allah é, de todas as coisas, Onisciente." (Alcorão 33:40)

Esse versículo confirma que o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) é o último dos profetas, encerrando a linha da profecia. É um dos principais fundamentos da crença islâmica sobre a finalidade da revelação divina com o Islã.

Shan-e-Nuzul (Contexto da Revelação) do Versículo 40ª da Sura Al-Ahzab

Esse versículo foi revelado para corrigir uma crença da época pré-islâmica[8] de que um filho adotivo era equivalente a um filho biológico.

Quando o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) casou-se com Zaynab bint Jahsh, ex-esposa de Zayd ibn Haritha, alguns hipócritas e opositores[9] tentaram usá-lo como argumento contra ele,[10] pois na cultura árabe, um homem não poderia casar-se com a ex-esposa de seu filho adotivo.[11]

Allah então revelou o versículo 40ª da Sura al-Ahzab, declarando que Muhammad não era pai biológico[12] de nenhum dos homens, mas sim o Mensageiro de Allah e o Último Profeta. Isso reforçou dois pontos principais:

Filiação adotiva não equivale à filiação biológica – anulando a crença da época.[13]

Muhammad (s.a.a.s.) é o "Khātam an-Nabiyyīn" (o Selo dos Profetas) – encerramento definitivo da profética.

Esse versículo, portanto, não apenas tratou de um evento social, mas também consolidou um dos princípios fundamentais do Islã: o fim da profecia com Muhammad (s.a.a.s.).[14]

Conexão entre o inicio e o fim do versículo

O início do versículo nega a relação de paternidade física do Profeta Muhammad (s.a.a.s.) com qualquer homem, enquanto a parte final afirma sua missão profética e o fato de ser o último profeta.[15]

Corte da relação de paternidade biológica, mas afirmação da relação espiritual: Deus remove a ideia de que o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) seja pai biológico de qualquer homem, mas fortalece sua conexão[16] espiritual com a comunidade como Mensageiro e último Profeta.[17]

O Profeta como pai espiritual de todos os crentes: Algumas interpretações afirmam que, embora ele não seja pai biológico, ele é o pai de todos os crentes, independentemente de suas origens, pois herda a missão de todos os profetas anteriores e encerra a linha profética.[18]

O amor paternal do Profeta pela sua comunidade: Como não haverá outro profeta após Muhammad (s.a.a.s.), seu amor e cuidado pelos muçulmanos são comparados ao de um pai por seus filhos.[19]

Alguns estudiosos acreditam que a citação da missão profética e do fato de Muhammad (s.a.a.s.) ser o último profeta, logo após a negação de sua paternidade física, tem um propósito específico:

Mostrar que a obediência ao Profeta (s.a.a.s.) não se baseia em um vínculo de parentesco, mas sim em sua posição como Mensageiro de Deus e líder da comunidade. Isso reforça a ideia de que o Profeta não deve ser seguido por causa de laços familiares ou tribais, mas sim por causa de sua autoridade divina e papel como guia final da humanidade.[20]

Significado de "Khātam" (خاتم)

Na recitação do Alcorão (qirā’āt), os Qurrā' Sab‘ah (Sete Recitadores) divergiram na pronúncia da palavra "خاتم" na Sura al-Ahzab:[21)

"Khātim" (خاتِم) – com Kasra (كسره) na letra ت (tā')[22]

Essa leitura sugere que o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) foi o "finalizador" da profecia, ou seja, aquele que trouxe o selo final para o ciclo de profetas.[23]

"Khātam" (خاتَم) – com Fatha (فتحه) na letra ت (tā')[24]

Essa leitura enfatiza que ele foi o "último" dos profetas,[25] confirmando que não haverá mais profetas depois dele.[26]

Alguns estudiosos consideram que ambas as pronúncias transmitem essencialmente o mesmo significado, reforçando que Muhammad (s.a.a.s..) encerra a linha profética.

A palavra "Khātam" (خاتم) também pode significar "selo",[27] indicando que ele autentica e confirma a mensagem dos profetas anteriores.

Há uma interpretação minoritária que sugere que "Khātam"[28] poderia significar "a joia dos profetas",[29] mas essa visão foi rejeitada por muitos exegetas, pois não se alinha com o contexto do versículo.[30]


O fim da profecia e da missão

Artigo principal: "Finalidade (ou selamento) da profecia

Em algumas ocasiões, têm sido levantadas dúvidas sobre o conteúdo deste versículo[31] e até mesmo sobre o próprio princípio do selamento da profecia (khātamiyyat).[32] Algumas pessoas questionaram que Deus apenas mencionou o fim da profecia com Seu Profeta e que talvez o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) não seja o último mensageiro.[33]

Os exegetas, em resposta a essa dúvida, consideram que "profeta" (nabī) tem um significado mais amplo do que "mensageiro" (rasūl) e que o fim da profecia implica, por consequência, o fim da missão profética.[34] Assim como a missão (risālat) também faz parte das revelações ocultas transmitidas por alguns profetas — ou seja, aqueles que informam as pessoas sobre o oculto (a religião e suas verdades).

Portanto, o Profeta (s.a.a.s.) é tanto "Khātam al-Nabiyyīn" (o selo dos profetas) quanto "Khātam al-Rusul" (o selo dos mensageiros). Sua relação com as pessoas ocorre tanto pelo fato de ser o enviado de Deus quanto por ser um profeta que transmite notícias do oculto da parte de Deus, e todas as suas ações são conforme o comando divino.[35]

Além disso, outras interpretações dos termos "mensageiro" (rasūl) e "profeta" (nabī) também foram apresentadas.[36]

"O conflito do versículo com os filhos do Profeta e a posição de Hassan e Hussein (a.s.)"

Embora o versículo sobre o selamento da profecia (khātamiyyat) declare explicitamente que o Profeta de Deus (s.a.a.s.) não é pai de nenhum dos homens entre seus seguidores, a existência dos filhos do Mensageiro de Deus (s.a.a.s.), como Qasim, Abdullah e Ibrahim (todos falecidos na infância), bem como o Imam Hassan (a.s.) e o Imam Hussein (a.s.), que eram considerados filhos do Profeta (s.a.a.s.), representa um dos desafios em relação a este versículo.[37]

Alguns responderam que o versículo emprega a palavra "rijāl" (homens), que se refere a adultos excluindo assim aqueles que faleceram na infância.[38] Além disso, Imam Hassan e Imam Hussein (a.s.) ainda não haviam atingido a puberdade no momento da revelação deste versículo, sendo, portanto, crianças.[39] Em outras palavras, Deus está dizendo no versículo que Seu Profeta não é pai de nenhum dos homens adultos que existiam naquele momento.[40]

Quanto a Hassan e Hussein (a.s.), outra resposta dada é que eles são filhos indiretos (ou seja, netos), enquanto o versículo se refere à negação de filhos diretos.[41] Outros argumentaram que, de acordo com o versículo, o Mensageiro de Deus (s.a.a.s.) não é pai de nenhum dos homens de vocês, mas isso não significa que ele não possa ser pai de seus próprios filhos.[42]

Essa interpretação foi baseada no versículo da Mubahala, no qual Hassan e Hussein (a.s.) são mencionados com o termo "abnāʾunā" (nossos filhos).[43]

Segundo alguns exegetas sunitas, se o Profeta (s.a.a.s.) tivesse um filho adulto, maduro e qualificado, esse filho certamente teria herdado a profecia. Portanto, Deus, ao negar que o Profeta tivesse filhos homens, enfatizou que ele é Seu Mensageiro e o último Profeta.[44]