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Sermão de Talutiyya

Fonte: wikishia

Sermão de Talutiyya é um sermão do Imam Ali (a.s.) após o falecimento do Profeta Muhammad (s.a.a.s.), no qual ele repreende as pessoas por sua negligência em apoiá-lo no episódio da usurpação do califado e as adverte sobre as consequências dessa inação. No sermão, o Imam menciona que, se tivesse apoiadores em número suficiente, como os companheiros de Talut, poderia ter salvado o povo do caminho desviado em que haviam caído.

Nesse sermão, o Imam Ali (a.s.) descreve alguns atributos de Deus e afirma a superioridade do Islã sobre outras religiões. Ele se apresenta como o sucessor designado do Profeta Muhammad (s.a.a.s.), a quem as pessoas foram ordenadas a seguir. O Imam Ali (a.s.) destaca que a obediência à Ahl al-Bait (a.s.) conduz à felicidade, trazendo bênçãos tanto nesta vida quanto na eternidade. Em contrapartida, afastar-se da Ahl al-Bait (a.s.) leva à escuridão, ao fechamento do caminho do conhecimento e à divisão entre as pessoas.

O estudioso Kulayni registrou esse sermão em seu livro Al-Kafi, citando Ibn Tihan como sua fonte. O Allama Majlisi observa que, embora o Sermão de Talut seja considerado fraco segundo os critérios da ciência do rijal (ciência dos narradores do hadith), sua eloquência e profundidade retórica indicam que pode ser atribuído ao Imam Ali (a.s.).

Introdução, tempo e contexto da pregação do sermão

O Sermão de Talut [1] é um discurso atribuído ao Imam Ali (a.s.), proferido em Medina após o falecimento do Profeta Muhammad (s.a.a.s.).[2] O nome "Talutiyya" deriva da menção aos companheiros de Talut (Saul), [3] que, segundo o Alcorão, permaneceram fiéis e foram testados antes da batalha contra Golias.

Nesse sermão, o Imam Ali (a.s.) repreende o povo por sua falta de coragem e apoio diante da usurpação do califado e os adverte sobre as consequências dessa omissão. Ele lamenta que, se tivesse seguidores leais em número suficiente, poderia ter reivindicado seus direitos e corrigido o desvio da comunidade islâmica.[4]

Segundo Allama Tehrani, esse sermão explica por que Imam Ali (a.s.) não se levantou contra a usurpação do califado após o falecimento do Profeta. O Imam seguiu a recomendação do próprio Profeta Muhammad (s.a.a.s.), que havia orientado a evitar o uso da espada caso não houvesse apoiadores suficientes, para que o Islã não sofresse um dano irreparável.[5]

Documento

Kulayni registrou o Sermão de Talut na seção Al-Rawdah de seu livro Al-Kafi, citando Abu al-Haytham ibn Tihan como narrador da tradição do Imam Ali (a.s.).

De acordo com Allama Majlisi, em sua obra Mir'aat al-Uqool, esse sermão é considerado fraco segundo os critérios da ciência do rijal. No entanto, devido à sua eloquência e profundidade, ele acredita que é improvável que tenha sido proferido por alguém que não seja um Ma’sum (infalível). Assim, mesmo sem uma cadeia de transmissão forte, Majlisi considera que o sermão pode ser autenticamente atribuído ao Imam Ali (a.s.).

Conteúdo

No Sermão de Talut, o Imam Ali (a.s.) inicia exaltando a grandeza de Deus, mencionando alguns de Seus nomes e atributos. Ele reafirma a missão profética de Muhammad (s.a.a.s.),[9] e declara ser o sucessor legítimo e sábio da Ummah, a quem o povo foi ordenado a seguir.[10] Ao longo do sermão, ele adverte sobre as consequências de se afastar da Ahl al-Bait (a.s.), destacando que essa negligência levaria a desordem e desvio da verdadeira fé. Em contrapartida, ele enfatiza os benefícios de seguir o Imam,[12] garantindo bênçãos tanto nesta vida quanto no Além. O Imam também critica a falta de apoio da comunidade diante da usurpação do califado,[13] lamentando a passividade do povo. Ele conclui afirmando que, se tivesse um número suficiente de seguidores leais, como os companheiros de Talut ou os combatentes de Badr, teria conseguido guiar as pessoas de volta ao caminho certo e evitar a corrupção na religião.[14]

Eventos após o sermão de Tatul

Segundo a narração de Ibn Tihan, após o Imam Ali (a.s.) proferir o Sermão de Talut e sair da mesquita, 360 pessoas lhe juraram lealdade durante a noite, prometendo apoiá-lo até a morte para restabelecer seu direito ao califado. O Imam então os instruiu a se reunirem na manhã seguinte em um local chamado Ahjar al-Zayt, nos arredores de Medina, e que todos comparecessem com a cabeça raspada, como um sinal de compromisso total. No entanto, apenas cinco companheiros fiéis compareceram ao local:

  1. Abu Dharr al-Ghifari
  2. Miqdad ibn Aswad
  3. Hudhayfa ibn al-Yaman
  4. Ammar ibn Yasir
  5. Salman al-Farsi

Ao perceber a ausência dos demais, o Imam Ali (a.s.) lamentou a fraqueza e inconstância das pessoas. Diante dessa realidade, ele se voltou a Deus em súplica, queixando-se da inação da comunidade e reafirmando que, por respeito à recomendação do Profeta Muhammad (s.a.a.s.), suportaria essa situação com paciência.

Esse episódio reforçou a falta de apoio político e social ao Imam Ali (a.s.), levando-o a adotar a paciência estratégica, evitando um conflito imediato que poderia prejudicar a unidade da Ummah (nação) islâmica.