Fátua sobre a Proibição da Produção e Uso de Armas Nucleares
A fatwa sobre a proibição da produção e uso de armas nucleares representa a visão jurídica do Aiatolá Sayyid Ali Khamenei, autoridade religiosa xiita e Líder Supremo da República Islâmica do Irã. Essa posição foi declarada em resposta às alegações sobre a intenção do Irã de desenvolver armas nucleares. Sayyid Ali Khamenei considera as armas de destruição em massa uma ameaça à humanidade e, por isso, sua produção e uso são considerados ilícitos (haram).
Alguns estudiosos citaram versículos do Alcorão e narrativas proféticas que proíbem o ataque a civis como base para essa proibição. Segundo AbulQassim Alidust, a condenação ao uso de armas de destruição em massa por juristas xiitas remonta a pelo menos dez séculos.
Essa fatwa teve repercussão em centros de análise política e institutos internacionais, e foi relatado que foi registrada como documento oficial nas Nações Unidas. O livro “Jurisprudência Nuclear”, de diversos autores, e a obra “A fatwa Nuclear sob a Perspectiva do Direito Internacional”, de Jabir Sivanizad, analisam os fundamentos e dimensões dessa proibição.
Importância
A fatwa foi emitida por Sayyid Ali Khamenei, como resposta direta às acusações sobre o suposto desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã.[1] Foi oficialmente apresentada na Primeira Conferência Internacional sobre Desarmamento e Não Proliferação de Armas Nucleares, realizada no Irã em 2010.[2]
Ali Akbar Salihi, então chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, afirmou que a posição do Irã baseia-se na dignidade do país e na obediência à fatwa contra armas nucleares.[3] Hillary Clinton, então secretária de Estado dos EUA, também fez referência a essa posição teológica em abril de 2012, como parte dos esforços para abrir diálogo com o Irã.[4] Barack Obama, presidente dos EUA na época, mencionou a fatwa na Assembleia Geral da ONU em setembro de 2013.
Repercussões
A fatwa de Sayyid Ali Khamenei foi amplamente bem recebida[6] e teve ampla repercussão em centros de estudos políticos internacionais.[7] Segundo o jornal Kayhan, a mensagem de Sayyid Ali Khamenei à conferência internacional sobre desarmamento, que continha a fatwa, foi registrada oficialmente nas Nações Unidas.[8] Jonathan Granoff, presidente do Instituto de Segurança Global dos EUA, solicitou que o líder iraniano escrevesse uma carta aos líderes religiosos mundiais para declarar a proibição absoluta do uso de armas nucleares, de modo a incentivá-los a se juntarem a essa posição.[9]
Em 2013, um grupo de seis padres e especialistas norte-americanos visitou estudiosos xiitas em Qom para avaliar a validade da fatwa. Eles relataram suas conclusões ao governo dos EUA para que fossem consideradas nas negociações nucleares com o Irã.[10] Em 2021, a BBC Persa transmitiu um documentário intitulado “Uma fatwa Nuclear”, sugerindo que a fatwa poderia ser temporária ou sujeita a mudanças[11] Hipótese rejeitada por estudiosos da jurisprudência islâmica.[12]
Fundamento histórico
A arma nuclear é considerada uma forma de arma de destruição em massa.[13] De acordo com Abulqassim Alidust, juristas xiitas já há mil anos proíbem o uso de armas e ferramentas que provoquem mortes em massa, destruam o meio ambiente e ameacem a vida de seres vivos.[14] Sayyid Ali Khamenei reiterou repetidamente sua oposição à fabricação e uso de armas nucleares desde fevereiro de 2010.[15]
Texto da fatwa e convergência com outros Marjas

O texto da fatwa foi apresentado em 17 de abril de 2010 na mensagem oficial de Sayyid Ali Khamenei à Primeira Conferência Internacional sobre Desarmamento e Não Proliferação, lida por Ali Akbar Velayati.[16] A mensagem declara:
“Além das armas nucleares, também consideramos outras formas de armas de destruição em massa, como as químicas e biológicas, uma séria ameaça à humanidade... Consideramos o uso dessas armas proibido (haram).”[17]
Diversos marjas (autoridades religiosas) como Nasser Makarem Shirazi, Hussain Nuri Hamedani, Jaafar Subhani e Abdullah Jawadi Amoli manifestaram apoio à visão jurídica de Aiatolá Khamenei no início da década de 2010.[18] Abulqassim Alidust e Ahmad Moballeghi também defenderam que essa fatwa tem caráter divino e eterno, sendo inalterável.[19]
Fundamentação
Diversas justificativas jurídicas foram apresentadas para a proibição da produção e uso de armas nucleares. Aiatolá Sayyid Ali Khamenei considera que o uso de tais armas contradiz os princípios doutrinários do Islã. Segundo ele, a utilização dessas armas representa a destruição de colheitas e gerações, como indicado no versículo 205 da sura al-Baqara.[20] Abulqassim Alidust afirma que um dos objetivos centrais da sharia é melhorar a relação entre os seres humanos e Deus, e entre si mesmos — o que não pode ser alcançado com a corrupção e o uso de armas de destruição em massa.[21]
Versículos do Alcorão
Ahmad Moballeghi aponta três fundamentos corânicos:[22]
- Regra da Responsabilidade Individual: baseada no versículo “Ninguém carrega o fardo do outro” (sura al-Isra, 17:15), que proíbe punir inocentes junto com culpados. Armas nucleares, por sua natureza, matam indiscriminadamente.
- Proibição da Corrupção na Terra: conforme o versículo 205 da sura al-Baqara, qualquer ação que leve à destruição da agricultura e das gerações é proibida.
- Princípio do Mal Maior: baseado no versículo 219 da sura al-Baqara (“o pecado é maior que o benefício”), segundo o qual tudo que cause mais dano do que benefício é proibido. Moballeghi afirma que os danos das armas nucleares são indiscutivelmente maiores que seus possíveis benefícios e indicando que as consequências negativas superam qualquer vantagem que possam trazer.
Nasser Ghorbannia também menciona os versículos 190 e 205 da sura al-Baqara, além dos versículos 8 e 32 da sura al-Ma’idah como fundamento para a proibição absoluta do uso de armas nucleares.[23]
Tradições (Hadiths)
No estudo jurisprudencial da proibição de armas nucleares como exemplo de armas de destruição em massa, argumentos foram apresentados com base em narrativas, incluindo:
AbulQassim Alidust e Muhammad Jawad Fazel Lankarani citaram narrativas que proíbem o uso de veneno em águas de inimigos.[24]
Alguns pesquisadores argumentaram com base em narrativas que proíbem ataques a civis (crianças, mulheres, idosos, doentes mentais e animais).[25]
Referências
Bibliografia
- A group of writers. Nuclear jurisprudence. Edited by Abu l-Qasim Alidust. 1st edition. Tehran: Islamic Culture and Thought Research Institute, 1397 Sh.
- Muhammadpur, Muhammad. Fatwa as a source of international law. In Shahr Qanun Quarterly, No. 13, Spring 2014.
- Registering the message of the leader of Iran as a document in the United Nations (Persian). Accessed: 2024/04/27.
- Acquaintance with the International Conference on Disarmament and Non-Proliferation of Nuclear Weapons (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Salihi: Only the leader of the revolution can give a correct opinion about the construction of nuclear weapons (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- A fatwa that reached the United Nations after 10 years (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- A review of the issuance of a fatwa banning nuclear weapons by the Supreme Leader of the Islamic Revolution of Iran (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- The leader's message to the Tehran conference was registered as an official document of the United Nations (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Religious leaders of the world should join Ayatollah Khamenei (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- We went to Qom to review Ayatollah Khamenei's nuclear fatwa (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- A nuclear fatwa (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Can the religious ban on using nuclear weapons be changed? (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Production and use of weapons of mass destruction from the perspective of Islamic jurisprudence (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Examining the prohibition of weapons of mass destruction in the history of Shiism (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Statements in the meeting of those involved in the construction of Jamaran Battleship (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Statements of the Supreme Leader of the Islamic Revolution in the meeting with officials and agents of the system (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Message to the first international conference on nuclear disarmament and non-proliferation (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Prohibition of weapons of mass destruction in the history of Shiism (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- The four requirements of the leader's fatwa on the prohibition of nuclear weapons (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- Jurisprudential reasons for banning the production of nuclear weapons (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- The nuclear fatwa of the leader of the Iranian revolution from the perspective of international law published in United States of America (Persian). Accessed: 2024/04/28.
- The book Nuclear jurisprudence was released in the 32nd book fair (Persian). Accessed: 2024/04/28.