Rascunho:Anel (Khatam)

O Anel (khatam) é um aro metálico, com ou sem pedra engastada, cujo uso é considerado, segundo as tradições proféticas, uma súnna do Profeta Muhammad (s.a.a.s.). No âmbito da jurisprudência islâmica, foram estabelecidos diversos preceitos relativos ao uso de anéis. As tradições xiitas também recomendam determinados materiais, pedras preciosas e inscrições específicas para o anel.
Relata-se que as inscrições nos anéis dos Imames da Escola Ahl al-Bait incluíam expressões como “المُلْکُ لله” (“a soberania pertence a Deus”) e “حَسبی الله” (“Deus me basta”). Entre os xiitas, tornou-se comum gravar nos anéis expressões como “Não há divindade além de Deus (لااله الا الله)”, “Muhammad é o Profeta de Deus “محمد نبی الله” e “ʿAli é o Guardião designado por Deus (علی وَلیُ الله)”.
Historicamente, os anéis também eram utilizados para lacrar cartas e documentos; o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) e diversos sábios xiitas empregaram esse método.
Lugar e importância
O Imam Hassan al-Askari (a.s.) disse:
“Os sinais do crente verdadeiro são cinco:
- Recitar 51 rakaʿat de oração diariamente (17 obrigatórias e 34 voluntárias);
- A visitação de Arbaʿin (ziyarat de quarenta dias após Ashuraʾ);
- Usar o anel na mão direita;
- Colocar a fronte diretamente sobre a terra durante a prostração;
- Pronunciar em voz audível o Bismillah al-Raḥman al-Raḥim.”[1]
No Dicionário da Jurisprudência Islâmica, o anel é definido como um aro — geralmente metálico — destinado ao dedo, podendo ou não possuir pedra engastada.[2] Em várias tradições, o ato de usar anel é apresentado como uma súnna do Profeta Muhammad (s.a.a.s.),[3] um sinal distintivo dos xiitas[4] e um marco da fé.[5]
Afirma-se que usar o anel na mão direita é um dos sinais pelos quais os xiitas são reconhecidos.[6] O anel é mencionado em diferentes capítulos do fiqh, como a oração,[7] o hajj[8] e o jihad.[9]
Exemplos do uso de anéis pelos Imames (a.s.)
De acordo com narrativas preservadas em fontes xiitas[10] e sunitas,[11] o Imam Ali (a.s.), durante a inclinação da oração, doou seu anel a um indigente.[12] Este episódio tornou-se conhecido como “a doação do anel”. Segundo o Luhuf, de Ibn Ṭawus (m. 664 H), o Imam al-Ḥussain (a.s.) portava um anel no momento de seu martírio, e Bijdal ibn Sulaim al-Kalbi — soldado do exército de ʿUmar ibn Saʿd — amputou o dedo do Imam para roubá-lo.[13]
Em outra tradição, ao ser questionado sobre a razão pela qual o Imam Ali (a.s.) usava o anel na mão direita, o Imam Mussa al-Kazim (a.s.) respondeu: Porque, após o Mensageiro de Deus (s.a.a.s.), Ali era o líder dos ‘Companheiros da Direita’.[14]
Lacração de cartas

O uso de anéis para lacrar documentos constitui uma das práticas tradicionais islâmicas.[15] Narra-se que, no final do ano 6 H, o Profeta Muhammad (s.a.a.s.) ordenou a confecção de um anel com o qual selaria as correspondências enviadas aos grandes governantes.[16] Essa prática também foi observada entre os sábios xiitas.[17] Daí o anel receber o nome de khatam (“selo”).[18]
Material e inscrição
Diversas tradições tratam do material, da pedra e das inscrições adequadas para o anel.[19]
- Material: Alguns relatos mencionam que o anel do Profeta Muhammad (s.a.a.s.) era de prata.[20] As tradições recomendam o uso de determinadas pedras preciosas, como ágata (ʿaqiq),[21] turquesa (fayruzaj),[22] rubi (yaqut)[23] e esmeralda (zumurrud).[24] Alguns hadiths preservados em Wassaʾil al-Shiʿa mencionam que a pedra do anel do Profeta (s.a.a.s.) tinha formato arredondado e coloração escura.[25]
- Inscrição: Há diversas tradições sobre as inscrições recomendadas para os anéis.[26] Segundo relato do Imam Sadiq (a.s.): a inscrição do anel do Profeta Muhammas (s.a.a.a.s.) era “Muhammad Rassul Allah (Muhammad é o Mensageiro de Deus)”; a inscrição do anel do Imam ʿAlī (a.s.) era “al-mulk lillah (a soberania pertence a Deus)”; a inscrição do anel do Imam Baqir (a.s.) era “al-izzatu lillah (a honra e a dignidade pertencem a Deus)”[27] Relata-se ainda que o Imam Kazim (a.s.) tinha anéis gravados com: “hasbi Allah hafizi” (“Deus me basta como Guardião”);[28] “al-mulk lillah wahdah” (“a soberania pertence somente a Deus Único”).[29] Dentre as inscrições recomendadas figuram também: “Muhammad nabi Allsh” e “ʿAli wali Allah”.[30] Anéis com essas gravações são comuns entre os xiitas.
Preceitos Jurídicos (Ahkam)
Artigo principal: Uso do Anel
O anel é discutido em diversas áreas do fiqh, como purificação, oração, peregrinação e jihad, possuindo numerosas normas jurídicas. Usar anel de ágata, especialmente durante a oração, é considerado recomendado.[31] O uso de anel de ouro por homens é proibido,[32] e invalida a oração.[33] Anéis com o nome de Deus ou versículos do Alcorão não devem ser usados durante a higiene íntima (istinjaʾ)[34] ou durante relações conjugais, sendo prática desaconselhada.[35] No hajj, usar anel de ágata amarela é recomendado para a viagem,[36] mas o muhrim não pode usar anel com intenção de adornar-se.[37]
Em casos de direito penal islâmico, o anel é considerado parte dos bens diretamente obtidos do inimigo (salab).[38] Assim, o combatente que mata um inimigo em batalha tem direito de propriedade sobre ele, sem divisão entre o grupo.[39] No direito sucessório, o anel integra os bens preferenciais (habwah), que são transmitidos exclusivamente ao filho mais velho antes da partilha.[40]
Anel de Salomão (Suleiman)
(Ver artigo principal: Anel de Salomão)
As tradições mencionam um anel pertencente ao Profeta Salomão (a.s.), símbolo de seu poder e autoridade.[41] Diz-se que esse anel passou aos Imames (a.s.)[42] e que será portado pelo Imam al-Mahdi (a.j.) no momento de seu reaparecimento.[43]
Referências
- ↑ Ṭūsī, Tahdhīb al-aḥkām, vol. 6, pág. 52.
- ↑ Shāhrūdī, Farhang-i fiqh, vol. 1, pág. 746.
- ↑ Kulaynī, al-Kāfī, vol. 6, pág. 468.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Hidāyat al-umma, vol. 2, pág. 137.
- ↑ Mufīd, Kitāb al-Mazār, pág. 53.
- ↑ Zāriʿī, Angushtarī dar Islām, pág. 15.
- ↑ ʿĀmilī, Miftāḥ al-karāma, vol. 5, pág. 444.
- ↑ Khoeī, Mawsūʿat al-Imām al-Khūʾī, vol. 28, pág. 452.
- ↑ Ṭūsī, al-Mabsūṭ, vol. 2, pág. 67.
- ↑ Mufīd, Masār al-Shīʿa, pág. 41.
- ↑ Ḥaskānī, Shawāhid al-tanzīl, vol. 1, pág. 209-239.
- ↑ Ḥaskānī, Shawāhid al-tanzīl, vol. 1, pág. 212.
- ↑ Ibn Ṭāwūs, al-Luhūf, pág. 130.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Hidāyat al-umma, vol. 2, pág. 137.
- ↑ Zāriʿī, Angushtarī dar Islām, pág. 15.
- ↑ Zāriʿī, Angushtarī dar Islām, pág. 15.
- ↑ Zāriʿī, Angushtarī dar Islām, pág. 15.
- ↑ Dihkhudā, Lughatnāma, sob palavra Angushtar.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 79, 93, 94 and vol. 1, pág. 331.
- ↑ Ṭabrisī, Makārim al-akhlāq, pág. 85.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 88.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 94.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 92.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 93.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 79.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 1, pág. 331, vol. 5, pág. 78, 79, 91, 94, 97-103.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 99.
- ↑ Ṭabrisī, Makārim al-akhlāq, pág. 91.
- ↑ Majlisī, Biḥār al-anwār, vol. 48, pág. 11.
- ↑ Ḥurr al-ʿĀmilī, Wasāʾil al-Shīʿa, vol. 5, pág. 92.
- ↑ Ṭabāṭabāʾī Yazdī, al-ʿUrwat al-wuthqā, vol. 2, pág. 361.
- ↑ Najafī, Jawāhir al-kalām, vol. 41, pág. 54.
- ↑ ʿĀmilī, Miftāḥ al-karāma, vol. 5, pág. 444.
- ↑ Baḥrānī, al-Ḥadāʾiq al-nāḍira, vol. 2, pág. 76.
- ↑ Baḥrānī, al-Ḥadāʾiq al-nāḍira, vol. 23, pág. 138.
- ↑ Ṭabāṭabāʾī Yazdī, al-ʿUrwat al-wuthqā, vol. 4, pág. 331.
- ↑ Khoeī, Mawsūʿat al-Imām al-Khūʾī, vol. 28, pág. 452.
- ↑ Ṭūsī, al-Mabsūṭ, vol. 2, pág. 67.
- ↑ Ṭūsī, al-Mabsūṭ, vol. 2, pág. 67.
- ↑ Sayyid Murtaḍā, al-Intiṣār, pág. 582.
- ↑ Majlisī, Biḥār al-anwār, vol. 14, pág. 99.
- ↑ Ṣaffār, Baṣāʾir al-darajāt, pág. 198, 208.
- ↑ Majlisī, Biḥār al-anwār, vol. 26, pág. 222.
Bibliografia
- ʿĀmilī, Sayyid Jawād. Miftāḥ al-karāma fī sharḥ qawāʿid al-ʿallāma. Editado por Muḥammad Bāqir Khāliṣī. Qom: Daftar-i Intishārāt-i Islami, 1419 AH.
- Bahrānī, Yūsuf al-. Al-Ḥadāʾiq al-nāḍira fī aḥkām al-ʿitrat al-ṭāhira. Editado por Muḥammad Taqī Irawānī e Sayyid ʿAbd al-Razzāq al-Muqarram. Qom: Intishārāt-i Islamī, 1405 AH.
- Ḥaskānī, ʿUbayd Allāh b. ʿAbd Allāh al-. Shawāhid al-tanzīl li-qawāʿid al-tafḍīl. Editado por Muḥammad Bāqir Maḥmūdī. Teerã: Majmaʿ Iḥyāʾ al-Thiqāfat al-Islāmī, 1411 AH.
- Ḥillī, al-Ḥassan b. Yusuf al-. Taḥrīr al-aḥkām al-sharʿiyya ʿalā madhhab al-imāmiyya. Editado por Ibrāhīm Bahādurī. Qom: Muʾassisat Imām al-Ṣādiq, 1420 AH.
- Ḥurr al-ʿĀmilī, Muḥammad b. al-Ḥassan al-. Hidayat al-umma ʾilā ahkām al-ʾaʾimma. Mashhad: Majmaʾ al-Buhūth al-Islāmiyya, 1412 AH.
- Ḥurr al-ʿĀmilī, Muḥammad b. al-Ḥassan al-. Tafṣīl wasāʾil al-Shīʿa ilā taḥṣīl masā'il al-sharī'a. 1ª Edição. Qom: Muʾassisat Āl al-Bayt, 1409 AH.
- Ibn Ṭāwūs, ʿAlī b. Musa. Al-Luhūf ʿalā qatlay al-ṭufūf. Teerã: Nashr-i Jahān, 1348 Sh.
- Khoeī, Sayyid Abū l-Qāsim al-. Mawsūʿat al-Imām al-Khūʾī. Primeira edição. Qom: Muʾassisa Ihyāʾ Āthar al-Imām al-Khūʾī, 1418 AH.
- Khomeini, Sayyid Rūḥ Allah. Tahrir al-wasila. Qom: Dār al-ʿIlm, [n.d].
- Kulayni, Muḥammad b. Ya'qūb al-. Al-Kāfi. Teerã: Dār al-Kutub al-Islāmīyya, 1407 AH.
- Majlisī, Muḥammad Bāqir al-. Bihar al-anwar. Beirute: Muʾassisat al-Wafāʾ, 1403 AH.
- Mufid, Muḥammad b. Muḥammad al-. Kitāb al-Mazar. Editado por Muḥammad Bāqir Abṭaḥī. Qom: 1413 AH.
- Mufid, Muḥammad b. Muḥammad al-. Masār al-Shīʿa fī tawārīkh al-sharīʿa. Editado por Mahdi Najaf. Qom: al-Muʾtamar al-ʿĀlamī li-Alfīyat al-Shaykh al-Mufīd, 1413 AH.
- Najafi, Muḥammad al-Ḥassan al-. Jawāhir al-kalām fī sharḥ sharāʾiʿ al-Islām. Beirute: Dār Iḥyāʾ al-Turāth al-ʿArabī, 1404 AH.
- Ṣaffār, Muḥammad b. Ḥassan. Baṣāʾir al-darajāt fī faḍāʾil-i Āl-i Muḥammad. Editado por Muḥsin Kūchabāghī. Qom: Kitābkhāna-yi Āyat Allāh al-Marʿashī, 1404 AH.
- Shāhrūdī, Sayyid Mahmūd. Farhang-i fiqh muṭābiq bā madhhab-i Ahl al-Bayt. Qom: Muʾassisat Dāʾirat al-Maʿārif al-Fiqh al-Islāmī, 1385 Sh.
- Sayyid Murtaḍā, 'Alī b. Ḥussain. Al-Intiṣār fī infirādāt al-imāmīyya. 1ª edição. Qom: Intishārāt-i Islamī, 1415 AH.
- Ṭabāṭabāʾī Yazdī, Muḥammad Kāẓim al-. Al-ʿUrwat al-wuthqā fīmā taʿummu bih al-balwā. . Qom: Jāmiʿat al-Mudarrisīn, 1419 AH.
- Ṭabrisī, Ḥassan b. al-Faḍl al-. Makarim al-akhlaq. Qom: al-Sharif al-Raḍī, 1412 AH.
- Ṭūsī, Muḥammad b. al-Ḥassan al-. Al-Mabsūṭ fī fiqh al-imāmīyya. Teerã: al-Maktaba al-Murtaḍawīyya li Iḥyāʾ al-Āthār al-Jaʿfarīyya, 1387 AH.
- Zāriʿī, Muḥammad. Angushtarī dar Islām. Majalla-yi farhang-i kawthar, 32 (1387 SH).