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Sunnah

Fonte: wikishia

Sunnah ou tradição (em árabe: السنة) refere-se aos ditos, ações e aprovações do Profeta Muhammad (s.a.a.s.). Para os xiitas, a Sunnah também inclui os ensinamentos e práticas dos Doze Imames (a.s).

A Sunnah é uma das quatro fontes principais para derivar as leis islâmicas, conhecidas como "Adillah Arba'ah" (ادله اربعه):

Alcorão (قرآن): A principal fonte da legislação islâmica.

Sunnah (سنت): Explica e complementa os ensinamentos do Alcorão.

Ijma' (اجماع): Consenso dos sábios islâmicos.

Aql (عقل): Uso da razão para dedução das leis (mais enfatizado no xiismo).

De acordo com o consenso dos muçulmanos, a Sunnah (tradição) do Profeta Muhammad (s.a.a.s.) é uma prova legítima (autoridade religiosa). Um dos motivos para isso é a crença de que o Profeta é infalível (a.s.) e não comete erros. Consequentemente, tudo o que provém dele é válido e deve ser seguido. Além disso, algumas passagens do Alcorão ordenam a obediência ao Profeta.

Do ponto de vista xiita, os Imames são igualmente infalíveis, assim como o Profeta (s.a.a.s.), e, portanto, sua Sunnah também é uma autoridade legítima. Além dessa justificativa racional, os xiitas também se baseiam em versículos do Alcorão e hadiths para comprovar essa crença. O Versículo da Purificação – Interpretado como uma prova da infalibilidade da Ahl al-Bait (Família do Profeta). O Hadith de Thaqalain – No qual o Profeta ordena aos muçulmanos que sigam o Alcorão e sua Ahl al-Bait (a.s.), o que reforça a necessidade de obedecer aos Imames.

Conceito e posição

A Sunnah é reconhecida pelos estudiosos muçulmanos como uma das principais fontes para a dedução das leis islâmicas.[1]

No Sunnismo → A Sunnah se refere aos ditos, ações e aprovações do Profeta Muhammad (s.a.a.s.).[2] No Xiismo → A Sunnah inclui ditos, ações e aprovações dos infalíveis (a.s.), além do Profeta Muhammad (s.a.a.s.).[3] O estudioso Muhammad Reza al-Muzaffar afirma que a origem do termo vem de hadiths do Profeta (s.a.a.s.), onde ele instruiu seus seguidores a se manterem fiéis à sua Sunnah.[4] No campo do Usul al-Fiqh, que estuda os princípios da jurisprudência islâmica, a autoridade da Sunnah é um dos tópicos fundamentais.[5]

O termo "Sunnah" tem diferentes aplicações nos estudos islâmicos, especialmente na jurisprudência (Fiqh). Além de seu significado como uma das fontes da legislação islâmica, ele também é usado em outros contextos.[6] Nesse sentido, a Sunnah é um dos princípios fundamentais para a dedução de leis islâmicas, ao lado do Alcorão, consenso e razão. Aqui, Sunnah significa tudo o que foi dito, feito ou aprovado pelo Profeta Muhammad (s.a.a.s.) e, no xiismo, também pelos Imames infalíveis (a.s.). Na terminologia jurisprudência, o termo "Sunnah" pode ser usado para se referir a atos Mustahab (recomendáveis), que não são obrigatórios (Wajib), mas trazem recompensas espirituais. Exemplo: As orações voluntárias são chamadas de "Sunnah", enquanto as orações obrigatórias são chamadas de "Fariza"[7]. O termo Sunnah também pode ser usado em oposição ao conceito de "Bid’ah". (Bid’ah refere-se a inovações religiosas que são atribuídas ao Islã sem base legítima na Sharia)[8]

A diferença entre Sunnah e Hadith

A Sunnah refere-se aos ditos, ações e aprovações do Profeta Muhammad (s.a.a.s.) e, no xiismo, também dos Imames infalíveis (a.s.). Essa tradição é transmitida por meio dos hadiths. Uso Intercambiável dos Termos. Apesar dessa diferença, muitas vezes os termos "Sunnah" e "Hadith" são usados de forma equivalente, especialmente no contexto da jurisprudência islâmica e dos estudos religiosos.[9]

A Importância e Autoridade da Sunnah

Após o Alcorão, a Sunnah é a segunda fonte mais importante para a dedução das leis islâmicas (Ahkam). Todos os estudiosos muçulmanos, tanto sunitas quanto xiitas, concordam com sua autoridade e necessidade para compreender e aplicar o Islã corretamente.[10] Esclarece e detalha leis mencionadas de forma geral no Alcorão. Fornece regras para questões que não são mencionadas explicitamente no Alcorão. Serve como base para deduzir leis (Ijtihad) na jurisprudência islâmica. Muitas passagens do Alcorão são gerais e precisam da Sunnah para esclarecimento.[11] O próprio Alcorão ordena que os muçulmanos sigam o exemplo do Profeta (s.a.a.s.). A Sunnah mostra como o Profeta (s.a.a.s.) interpretou e aplicou o Alcorão em sua vida.[12] Os estudiosos muçulmanos consideram que rejeitar a autoridade da Sunnah equivale a rejeitar um fundamento essencial do Islã.[13] Isso porque o próprio Alcorão ordena seguir o Profeta (s.a.a.s.), e sem a Sunnah, não há como entender completamente a religião.[14]

Escopo da Sunnah

As escolas do Islã divergem sobre o que está incluído na sunnah. Na escola xiita Imamiyya, os Imames infalíveis (a.s.) foram designados por Deus, por meio do Profeta (s.a.a.s.), para transmitir as leis divinas após ele e são, eles próprios, uma fonte de legislação das verdadeiras normas divinas.[15] Por isso, nesta escola, além da sunnah do Profeta (s.a.a.s.), a tradição dos Imames (a.s.) também é considerada uma prova legítima e é seguida.[16]

Na religião sunita, a sunnah se limita às palavras, ações e aprovações do Profeta (s.a.a.s.).[17] No entanto, alguns estudiosos dessa escola, como al-Shatibi, também consideram a tradição dos companheiros (sahaba) uma prova legítima.[18] Isso porque, segundo eles, as ações dos sahaba estavam baseadas em uma sunnah que era estabelecida entre eles, mas que não chegou até nós, ou eram resultado de seu próprio ijtihad (esforço de interpretação).[19]

Outras religiões muçulmanas

As escolas jurídicas ibadita e zaidita são consideradas próximas à jurisprudência sunita em seus fundamentos, pois se baseiam na sunnah do Profeta (s.a.a.s.) como uma das fontes para deduzir normas jurídicas.[20] Os ibaditas, além da sunnah do Profeta, também consideram as palavras e a conduta dos sahaba como prova legítima.[21] Os zaiditas, por sua vez, além da sunnah da Ahl al-Bait (família do Profeta), também seguem a sunnah dos sahaba como uma das fontes da legislação islâmica.[22]

Categorias

A sunnah é dividida em três categorias: ação (fi'li), ditos (qawli) e aprovação (taqriri).[23]

A Sunnah da ação

A ação que o Profeta (s.a.a.s.) ou um Imam infalível (a.s.) realizou com a intenção de estabelecer uma norma jurídica, como fazer a ablução (wudu), realizar a oração (salat) e cumprir a peregrinação (hajj), é chamada de Sunnah da ação e prática.[24] Além disso, gestos, escrita e a omissão de certas ações por parte do Profeta (s.a.a.s.) ou de um Imam infalível (a.s.) também são considerados parte da sunnah da ação.[25]

Sobre como as ações do Profeta (s.a.a.s.) e dos Imames indicam uma norma jurídica, duas possibilidades são mencionadas:

  • Uma ação realizada pelo Profeta (s.a.a.s.) ou por um Imam infalível (a.s.) é acompanhada de indícios (qarā'in) que esclarecem se ele está estabelecendo uma norma jurídica ou um ato de adoração, como a oração, a ablução, a peregrinação e similares. Esses indícios também ajudam a determinar se a ação é obrigatória, recomendada ou possui outro.[26]
  • Quando uma ação realizada pelo Profeta (s.a.a.s.) ou por um Imam infalível (a.s.) não é acompanhada de nenhum indício que esclareça sua classificação jurídica, surgem diferentes interpretações:
  1. Alguns acreditam que essa ação indica sua obrigatoriedade (wujūb).
  2. Outros consideram que ela apenas sugere recomendação.
  3. Um terceiro grupo argumenta que a ação não indica nem obrigação nem recomendação, apenas mostra que realizá-la é permitido (mubāh).[27]

Os estudiosos da usul al-fiqh (fundamentos da jurisprudência)[29] afirmam que, se uma ação[28] realizada pelo Profeta (s.a.a.s.) ou por um Imam infalível (a.s.) for acompanhada de um indício que indique que essa ação é exclusiva deles,[30] como a obrigatoriedade da oração noturna para o Profeta (s.a.a.s.), então essa ação não é uma prova vinculativa para os demais muçulmanos.[31]

Por outro lado, se não houver clareza sobre se a ação é exclusiva do Profeta (s.a.a.s.) ou dos Imames, ou se se aplica a todos os muçulmanos,[32] há divergência entre os estudiosos: Alguns acreditam que tal ação é exclusiva do Profeta ou do Imam e não se aplica aos demais muçulmanos.[33] Outros sustentam que a ação é uma prova legítima para todos os muçulmanos, podendo ser seguida por qualquer um.[34]

A Sunnah do Dito

Refere-se às palavras do Profeta Muhammad (s.a.a.s.) e de outros Imames infalíveis. A maior parte da sunnah[35] consiste justamente nesse tipo, que são os ensinamentos e ditos transmitidos do Profeta (s.a.a.s.) e dos Imames infalíveis.[36]

A Sunnah de aprovação (taqriri)

A aprovação do Profeta (s.a.a.s.) ou de um Imam infalível (a.s.) refere-se ao silêncio deles diante de palavras ou ações apresentadas na sua presença. Esse silêncio implica uma aprovação tácita dessas palavras ou ações.[38] A aprovação do infalível (a.s.), sob certas condições, indica que o comportamento ou a declaração realizada está permitido ou é correto, pois o infalível (a.s.) tem a responsabilidade de corrigir qualquer erro ou de orientar corretamente aqueles que estão equivocados. Se ele não intervier, isso significa que o comportamento ou a palavra está em conformidade com as normas islâmicas.[39]

Argumentos que se baseiam em Autoridade e Validade na Sunnah

Os estudiosos muçulmanos utilizam várias evidências para provar a autoridade e validade da sunnah do Profeta Muhammad (s.a.a.s.), incluindo o Alcorão, o consenso e argumentos racionais.

  • O Alcorão: Há versículos que indicam a obrigatoriedade de obedecer ao Profeta (s.a.a.s.),[40] como em vários versículos que estabelecem a obediência a ele como uma parte fundamental da prática islâmica.
  • O Consenso: Todos os grupos islâmicos concordam que as palavras, ações e aprovações do Profeta (s.a.a.s.) são uma prova legítima, e que os muçulmanos devem seguir essas tradições.
  • Argumento Racional: Na ciência teológica ('ilm al-kalām), é estabelecido que o Profeta (s.a.a.s.) é infalível (a.s.), ou seja, sem nenhum erro e negligência. Portanto, suas palavras, ações e aprovações são consideradas uma fonte confiável de orientação e autoridade.[41] Esses argumentos reforçam a posição de que a sunnah do Profeta é uma fonte válida e obrigatória para a prática religiosa no Islã.[42]

Os estudiosos xiitas, além dos argumentos utilizados para provar a autoridade da sunnah do Profeta (s.a.a.s.), também recorrem ao Alcorão, à própria sunnah do Profeta (s.a.a.s.) e à razão para demonstrar a validade da sunnah dos Imames infalíveis.[43]

O Alcorão: O Versículo da Purificação (versículo de al-Tathir, 33:33) é interpretado como uma prova da infalibilidade dos Imames, indicando que suas palavras e ações são puras e confiáveis.[44] O Versículo da Obediência (versículo Uli al-Amr, 4:59) ordena a obediência aos "detentores da autoridade", que, segundo a interpretação xiita, são os Imames infalíveis. A Sunnah do Profeta (s.a.a.s.): O Hadith al-Thaqalain, transmitido por múltiplas cadeias autênticas (mutawatir), instrui os muçulmanos a seguirem tanto o Alcorão quanto a Ahl al-Bait (a.s.) para evitar o desvio. Isso confirma que os ensinamentos dos Imames são uma fonte legítima de orientação.[45]

A Razão: A razão aceita a sunnah do Profeta (s.a.a.s.) devido à sua infalibilidade. Como a teologia islâmica demonstra que os Imames também são infalíveis, segue-se logicamente que sua sunnah também é válida e obrigatória.[46]