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Sura al-Nasr

Fonte: wikishia

A Sura Al-Nasr (سوره النَصر) é a 110ª sura do Alcorão e pertence às suras medinenses, sendo parte do 30º parte (Juz). Seu nome é retirado do primeiro versículo e significa "Vitória". Outro nome pelo qual é conhecida é "Iza Ja’a". Essa sura contém três profecias importantes: A conquista de Meca, marcando a vitória final do Islã. A conversão em massa dos habitantes de Meca e arredores ao Islã e sua aliança com o Profeta Muhammad (s.a.a.s.). O falecimento do Profeta Muhammad (s.a.a.s.). A recitação dessa sura é associada à aceitação das súplicas e à vitória sobre os inimigos.

Introdução

  • Nomeação da Sura Al-Nasr

A sura é mais conhecida pelo nome "Al-Nasr" (النصر), porque a palavra "nasr" (vitória) aparece no primeiro versículo e trata do socorro divino e do triunfo do Islã. Ela também é chamada de "Iza Ja’a" (اذا جاء), pois essas são as primeiras palavras da sura. Um terceiro nome atribuído a essa sura é "Tawdi’" (تودیع), que significa "Despedida". Esse nome está relacionado ao fato de que a sura foi revelada nos últimos dias da vida do Profeta Muhammad (s.a.a.s.), sendo interpretada como uma despedida de Deus e do anjo Gabriel (Jibril) ao Mensageiro de Allah.[1]

  • Ordem e Local da Revelação da Sura Al-Nasr

A Sura Al-Nasr é considerada uma sura medinense e, na ordem cronológica da revelação, é geralmente listada como a 102ª sura revelada ao Profeta Muhammad (s.a.a.s.).[2] No entanto, há diferentes opiniões entre os estudiosos, e alguns a consideram a 110ª,[3] 111ª ou até 112ª sura revelada. Na organização atual do Mushaf (a ordem tradicional do Alcorão), ela ocupa a 110ª posição. Essa sura é uma das 14 a 16 suras que foram reveladas de uma só vez, sem pausas entre os versículos. Suras desse tipo são conhecidas como "Jami’ al-Nuzul"[4] (سور جَمعیُ‌النزول), ou seja, "suras de revelação completa". De acordo com um relato do Imam Ali l-Rida (a.s.), transmitido por seu pai a partir do Imam Ja'far Al-Sadiq (a.s.), a primeira sura revelada foi Al-‘Alaq (اقْرَأْ بِاسْمِ رَبِّكَ) e a última foi Al-Nasr (إِذا جاءَ نَصْرُ اللهِ). No entanto, o renomado exegeta Allama Tabatabai, autor do Tafsir Al-Mizan, sugeriu que talvez essa tenha sido a última sura completa a ser revelada, mas não necessariamente o último versículo do Alcorão.[5]

  • Número de Versículos, e Palavras na Sura Al-Nasr

A Sura Al-Nasr possui: 3 versículos, 19 palavras, 80 letras. Ela faz parte das suras "Mufassalat" (سوره‌های مُفَصَّلات), que são conhecidas por terem versículos curtos.[6]

Conteúdo

Nesta sura, Deus promete ao Seu Mensageiro (s.a.a.s.) vitória e auxílio, anunciando que, em breve, as pessoas entrarão no Islã em grandes grupos. Por isso, Deus ordena ao Profeta Muhammad (s.a.a.s.) que glorifique Seu nome, faça louvores e busque perdão, como forma de gratidão pelo triunfo recebido. Alguns estudiosos, como Allama Tabatabai, acreditam que essa sura foi revelada em Medina, após o Tratado de Hudaibiya e antes da Conquista de Meca. Dessa forma, o "triunfo" mencionado na sura se refere à Conquista de Meca.[7]

O Tempo da Revelação da Sura Al-Nasr e Suas Profecias

As opiniões sobre o momento da revelação da Sura Al-Nasr são divergentes. Por exemplo, Ali ibn Ibrahim al-Qummi afirma que essa sura foi revelada em Mina, durante a Peregrinação de Despedida [9] (Hajj al-Wada'). Já Wahidi Nishaburi diz que essa sura foi revelada no retorno do Profeta (s.a.a.s.) da Batalha de Hunayn e que, após essa revelação, ele viveu por menos de dois anos.[10] No entanto, alguns exegetas (mufassirun), como Sheikh Tabrasi e Allama Tabatabai, acreditam que essa sura foi revelada após o Tratado de Hudaibiya e antes da Conquista de Meca.[11] Dessa forma, a vitória e o triunfo mencionados nos versículos 1 e 2 referem-se à Conquista de Meca, pois foi após essa conquista que multidões de pessoas passaram a entrar no Islã.[12] Essa sura contém três profecias e notícias do oculto:

  • A Conquista de Meca representou uma grande vitória e a supremacia final do Islã.
  • Os principais acontecimentos relacionados a essa sura incluem: A entrada do povo de Meca e das regiões vizinhas no Islã, com sua lealdade ao Mensageiro de Deus (s.a.a.s.).
  • A morte do Profeta (s.a.a.s.).[13] No livro Majma' al-Bayan, menciona-se que quando essa sura foi revelada, o Profeta (s.a.a.s.) a recitou para seus companheiros. Eles ficaram felizes e começaram a dar a boa notícia uns aos outros. No entanto, Abbas, tio do Profeta, ao ouvi-la, começou a chorar. O Profeta (s.a.a.s.) perguntou: "Por que choras, tio?" Abbas respondeu: "Ó Mensageiro de Deus, acho que esta sura anuncia a tua morte." O Profeta (s.a.a.s.) confirmou: "Sim, ela diz exatamente isso que entendeste." Depois da revelação dessa sura, o Profeta (s.a.a.s.) viveu por menos de dois anos e, a partir de então, nunca mais foi visto sorrindo ou alegre. Esse significado é mencionado em diversas narrações com palavras diferentes.[14]

Alguns estudiosos explicaram como essa sura indica o falecimento do Profeta (s.a.a.s.), apesar de não mencioná-la explicitamente. Eles dizem que essa sura mostra que o Mensageiro de Deus (s.a.a.s.) concluiu sua missão profética, cumprindo tudo o que lhe foi ordenado. O período de esforço e luta havia chegado ao fim. Sendo assim, aplica-se o provérbio conhecido: "Quando algo atinge sua perfeição, deve-se esperar seu declínio."[15]

A Interpretação Mística (Irfani) da Sura de Ibn Arabi

Ibn Arabi, em sua interpretação mística da Sura Al-Nasr, relaciona o comando divino ao Profeta (s.a.a.s.) para glorificar (tasbih), louvar (hamd) e buscar perdão (istighfar) com a sua preparação para a morte e a ascensão ao nível supremo da Realidade Divina." Glorifica com os louvores do teu Senhor" (فَسَبِّحْ بِحَمْدِ رَبِّكَ) Ibn Arabi explica que este comando indica que o Profeta deve cortar seus laços com o corpo físico e elevar-se ao nível de Haqq al-Yaqin (a certeza absoluta da verdade divina). Esse nível é descrito como a fonte de toda a Wilayah (santidade espiritual), onde a alma do Profeta se liberta de qualquer véu ou limitação terrena. O tasbih (glorificação) aqui simboliza a purificação final, onde o Profeta transcende a existência material e se aproxima completamente de Deus." E busca o Seu perdão" (وَاسْتَغْفِرْهُ)

Ibn Arabi interpreta o istighfar não como um pedido de perdão por pecados (já que o Profeta é infalível), mas como um desejo de retornar ao estado de aniquilação total em Deus (fana’). Isso significa que o Profeta (s.a.a.s.) pede a Deus para ser agraciado com os estados espirituais que possuía antes da missão profética, quando ainda não havia sido enviado à humanidade. Essa súplica mostra seu anseio pelo reencontro com Deus e a libertação definitiva do mundo material. "Pois Ele é quem sempre aceita o arrependimento." (إِنَّهُ كَانَ تَوَّابًا)

Aqui, Ibn Arabi vê a misericórdia divina como uma constante aceitação daqueles que retornam a Ele. O Profeta (s.a.a.s.), tendo cumprido sua missão e estabelecido o Islã, agora recebe a ordem divina para retornar ao seu verdadeiro lar: a presença de Deus. Ibn Abbas, que era jovem quando essa sura foi revelada, ao ouvi-la chorou e disse: "Essa sura anuncia a tua morte, ó Mensageiro de Deus." De acordo com a tradição, após a revelação dessa sura, o Profeta (s.a.a.s.) fez um sermão e disse:

"Deus deu a Seu servo a escolha entre este mundo e a vida após a morte – e ele escolheu o encontro com Deus (Liqa’ Allah)."[16]

O papel da glorificação e o pedido de perdão na Sura Al-Nasr

A Conquista de Meca simbolizou a derrota do politeísmo, a exaltação do monoteísmo, a aniquilação do falso e o estabelecimento da verdade. Por isso, o Profeta (s.a.a.s.) foi ordenado a Glorificar Deus (Tasbih) – Porque a vitória representava a destruição da falsidade e da corrupção, louvar Deus (Hamd) – Porque o triunfo do Islã foi uma bênção divina, buscar Perdão (Istighfar) – Como um ato de humildade e gratidão ao completar sua missão.

Glorificação de Deus (Tasbih)

Após a vitória, o Profeta (s.a.a.s.) foi instruído a exaltar os atributos de majestade de Deus (Jalal), reconhecendo que toda conquista pertence exclusivamente a Ele.

Isso reforça a ideia de que a glória de Deus é absoluta e a do ser humano é passageira.

Louvor a Deus (Hamd)

O hamd refere-se ao reconhecimento dos atributos de beleza divina (Jamal).

Como a Conquista de Meca foi uma grande bênção, o Profeta (s.a.a.s.) foi instruído a agradecer a Deus por essa manifestação do Seu poder e misericórdia.

Pedido de Perdão (Istighfar)

O istighfar não significa que o Profeta (s.a.a.s.) tenha cometido pecados, mas expressa a necessidade contínua da misericórdia de Deus.

Ele representa um ato de humildade, pois, apesar de ter cumprido sua missão, o Profeta (s.a.a.s.) reconhece sua total dependência de Deus.

Como mencionado, o ser humano precisa tanto do perdão inicial de Deus quanto da continuação desse perdão ao longo da vida.

Umm Salama relatou que, nos últimos dias de sua vida, o Profeta (s.a.a.s.) sempre repetia:

"Subhanallahi wa bihamdihi, wa astaghfirullaha wa atubu ilayh"

(Glorificado seja Deus com Seu louvor, e peço perdão a Deus e retorno a Ele). Quando perguntaram o motivo, ele recitou a Sura Al-Nasr e disse que havia sido ordenado a fazer isso. Aisha também narrou que o Profeta (s.a.a.s.) frequentemente dizia: "Subhanaka Allahumma wa bihamdika, astaghfiruka wa atubu ilayk" (Glorificado sejas, ó Deus, com Teu louvor. Peço Teu perdão e retorno a Ti).

Méritos e Benefícios

Segundo uma narração atribuída ao Profeta Muhammad (s.a.a.s.), aquele que recita essa sura recebe a recompensa de alguém que lutou ao lado do Profeta na Conquista de Meca e alcançou o martírio.[19] Em outra tradição, menciona-se que quem recitar essa sura na noite do nono dia de Sha'ban, em uma oração de quatro rak'ats, recitando-a dez vezes após a Sura Al-Fatiha em cada rak’at, terá seu corpo protegido do fogo do Inferno. Além disso, para cada versículo recitado,[20] a pessoa receberá a recompensa de dez mártires da Batalha de Badr e o mérito dos sábios religiosos. No terceiro rak’at da oração recomendada de Ja'far Al-Tayyar,[21] a Sura Al-Nasr é recitada, indicando seu valor especial na tradição islâmica. Algumas tradições mencionam que a recitação dessa sura contribui para a aceitação das súplicas (du’a) e pode trazer sucesso contra adversidades e inimigos.[22]